Morcego





Disambig grey.svg Nota: Morcegos redireciona para este artigo. Para o filme, veja Bats (filme). Para outros significados, veja Morcego (desambiguação).

























































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































Como ler uma infocaixa de taxonomiaMorcegos

Ocorrência: 52–0 Ma

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Eoceno – Presente




Corynorhinus townsendii
Corynorhinus townsendii


Classificação científica























Reino:

Animalia


Filo:

Chordata


Classe:

Mammalia


Infraclasse:

Placentalia


Ordem:

Chiroptera
Blumenbach, 1779

Distribuição geográfica

Bat range.png

Subordens


  • Yinpterochiroptera

  • Yangochiroptera



O morcego é um animal mamífero da ordem Chiroptera cujos membros superiores (braços e mãos) têm formato de asas membranosas, tornando-os únicos mamíferos naturalmente capazes de voar. No Brasil, o morcego pode ser raramente chamado pelos seus nomes indígenas andirá ou guandira[1].


Tradicionalmente, divide-se os quirópteros em morcegos propriamente ditos (subordem Microchiroptera) e raposas-voadoras (subordem Megachiroptera). Representam um quarto de toda as espécies de mamíferos do mundo. São pelo menos 1 116 espécies [2], que possuem uma enorme variedade de formas e tamanhos, podem ter uma envergadura de cinco centímetros a dois metros, uma enorme capacidade de adaptação a quase qualquer ambiente (só não ocorrem nos polos) e uma ampla diversidade de hábitos alimentares.


Os morcegos têm a dieta mais variada entre os mamíferos, pois podem comer frutos, sementes, folhas, néctar, pólen, artrópodes, pequenos vertebrados, peixes e sangue[3]. Cerca de 70% dos morcegos são insetívoros, alimentando-se de insetos, sendo praticamente todo o restante frugívoros, ou seja, alimentam-se de frutas. Somente três espécies se alimentam exclusivamente de sangue: são os chamados morcegos hematófagos ou vampiros, encontrados apenas na América Latina. Dessa maneira, morcegos contribuem substancialmente para a estrutura e dinâmica dos ecossistemas [4], pois atuam como polinizadores, dispersores de sementes, predadores de insetos (incluindo pragas agrícolas), fornecedores de nutrientes em cavernas e vetores de doenças silvestres, dentre outras funções. Possuem ainda o extraordinário sentido da ecolocalização (biossonar ou orientação por ecos), que utilizam para orientação, busca de alimento e comunicação.




Índice






  • 1 Etimologia


  • 2 Classificação


  • 3 Anatomia


  • 4 Ecolocalização


  • 5 Reprodução


  • 6 Inimigos naturais


  • 7 Interações com plantas


  • 8 Transmissão da raiva


  • 9 Aspectos culturais


  • 10 Morcegos no Brasil


  • 11 Importância ecológica e econômica


  • 12 Gravuras


  • 13 Ver também


  • 14 Referências


  • 15 Ligações externas





Etimologia |


O termo "morcego" tem origem no nome arcaico para "rato", "mur" (do latim mure) com "cego", significando, portanto, "rato cego"[1].


No Brasil também se usam raramente os termos "andirá" ou "guandira" que têm sua origem no tupi ãdi'rá[5].


A ordem dos morcegos, "Chiroptera", tem sua origem etimológica nos termos gregos χείρ [cheir], "mão" e πτερόν [pterón], "asa"[6] .



Classificação |


Há duas subordens clássicas de morcegos:




  1. Megachiroptera, raposas-voadoras


  2. Microchiroptera, verdadeiros morcegos




Uma raposa-voadora Pteropus giganteus (Megachiroptera: Pteropodidae)


Os Megachiroptera são encontrados na África, Oceania e Ásia. Como o seu nome indica, nesta subordem que encontram-se os maiores morcegos do mundo, os quais chegam a 2 metros de envergadura e comem frutas. Não utilizam a ecolocalização, à excepção do gén. Rousettus. A subordem Microchiroptera contém os mais variados hábitos alimentares, comendo desde frutas (frugivoros) até peixes (piscivoro), e com freqüência dependem da ecolocalização para navegação e para encontrar presas. Três espécies se destacam por terem desenvolvido um hábito alimentar por sangue, os hematófagos: Desmodus rotundus, Diphylla ecaudata e Diaemus youngi).


Acreditava-se que essas duas subordens tinham se desenvolvido de forma independente e que suas características similares eram resultado de evolução convergente. Porém, análises filogenéticas mostraram que os dois grupos têm um ancestral voador comum[7]. Estudos filogenéticos mais recentes, feitos com dados moleculares, têm mantido essa teoria do ancestral comum (a ordem Chiroptera seria mesmo um grupo monofilético). Porém, a divisão em duas subordens está sendo alterada, porque na verdade as raposas-voadoras parecem estar contidas dentro de uma linhagem evolutiva dos demais morcegos[8].


Sabe-se pouco sobre a origem dos morcegos, já que seus esqueletos pequenos e delicados não fossilizam bem. Os morcegos fósséis mais antigos encontrados são o Icaronycteris, Archaeonycteris, Palaeochropteryx e Hassianycteris do Eoceno inferior (cerca de 50 milhões de anos atrás), mas eles já eram muito semelhantes aos Microchiroptera modernos[9]. Foram descobertos fósseis de Megachiroptera datados do Oligoceno médio (cerca de 30 milhões de anos atrás). Os morcegos eram usualmente agrupados, junto com os Scandentia, Dermoptera e primatas, na superordem Archonta, mas novos estudos genéticos, morfológicos e paleontológicos revelaram que os morcegos não ligam-se a estes animais. Com a exclusão dos Chiroptera, o grupo passou a ser batizado de Euarchonta. Os morcegos parecem estar mais relacionados com uma fauna originada no supercontinente Laurasia, os Laurasiatheria, que incluem também os insetívoros verdadeiros (Eulipotyphla), ungulados (Artiodactyla e Perissodactyla, Carnivora e os pangolins (Pholidota)[10].




Variedade de formas entre morcegos.


Classificação moderna dos morcegos:



  • Ordem Chiroptera Blumenbach, 1779


    • Subordem Yinpterochiroptera Van den Bussche & Hoofer, 2004


      • Pteropodidae Gray, 1821

      • Superfamília Rhinolophoidea


        • Craseonycteridae Hill, 1974


        • Megadermatidae H. Allen, 1864


        • Rhinolophidae Gray, 1825


        • Rhinopomatidae Bonaparte, 1838






    • Subordem Yangochiroptera

      • Superfamília Emballonuroidea Van den Bussche & Hoofer, 2004


        • Emballonuridae Gervais, 1855


        • Nycteridae Van der Hoeven, 1855



      • Superfamília Vespertilionoidea


        • Molossidae Gervais, 1856


        • Natalidae Gray, 1866


        • Vespertilionidae Gray, 1821



      • Superfamília Noctilionoidea


        • Furipteridae Gray, 1866


        • Mormoopidae Saussure, 1860


        • Mystacinidae Dobson, 1875


        • Myzopodidae Thomas, 1904


        • Noctilionidae Gray, 1821


        • Phyllostomidae Gray, 1825


        • Thyropteridae Miller, 1907








Anatomia |




Foto do esqueleto de morcego.


O osso do metacarpo e o segundo e quinto dedos dos membros anteriores são alongados, e entre eles existe uma membrana, chamada "feiosa brósiliti quiropatágio". A membrana se estende dos dedos até ao lado do corpo e deste até à base dos membro posteriores. A asa inteira de um morcego é chamada "patágio". Muitas espécies têm também uma membrana entre os membros posteriores incluindo a cauda. Esta membrana é o "uropatágio".




Desenho de asa de morcego.




Esqueleto de um morcego vampiro comum (Desmodus rotundus); note a dentição especializada.


O patágio está cheio de delicados vasos sanguíneos, fibras musculares e nervos. No tempo frio, os morcegos enrolam-se em suas próprias asas como num casaco. No calor, eles as expandem para refrescar seus corpos.


O polegar e, às vezes, o segundo dedo dos membros anteriores, têm garras, bem como os cinco dedos dos membros posteriores. As garras traseiras permitem aos morcegos agarrarem-se aos galhos ou saliências. Os morcegos conseguem se locomover no solo, porém de forma desajeitada. Apenas os hematófagos (América do Sul) e mistacinídeos (Nova Zelândia) possuem hábitos cursoriais desenvolvidos, com adaptações para esse estilo de vida.


Quase todos os morcegos são ativos à noite ou ao crepúsculo, com exceção do grupo das raposas-voadoras, que inclui muitas espécies diurnas. Os seus sentidos de olfato, paladar e audição são excelentes e, ao contrário do que muitos pensam, morcegos possuem uma boa visão. Eles possuem também o sentido da ecolocalização (biossonar), que levou a diversas modificações morfológicas em várias espécies de morcegos, chegando a aparências bizarras como a dos morcegos Centurio. Algumas espécies de morcegos estão entre os tetrápodes voadores vivos mais rápidos do planeta. A espécie morcego-sem-rabo-brasileiro (Tadarida brasiliensis) alcança velocidades de até 160 km/h.[11]


Seus dentes, no geral, se parecem com os dos mamíferos da ordem Eulipotyphla (toupeiras e musaranhos). Porém, há uma grande variedade de dentições entre os morcegos, relacionadas às suas linhagens evolutivas e hábitos alimentares[3]. Por exemplo, morcegos frugívoros costumam ter um grande número de dentes, tendo molares e pré-molares bem largos e fortes, que usam para mastigar a polpa fibrosa de muitos frutos. Já morcegos que se alimentam de néctar têm poucos dentes, que são de menor tamanho, já que esses morcegos só bebem líquidos. Morcegos-vampiros, por sua vez, têm dentes incisivos grandes e afiados, que usam para fazer cortes precisos e superficiais nas suas presas, das quais lambem o sangue.



Ecolocalização |


A maioria dos morcegos possui um sexto sentido, aliado aos cinco a que nós humanos estamos acostumados: a ecolocalização [12], ou seja, orientação por ecos. Este sentido funciona, basicamente, da seguinte maneira: o morcego emite ondas ultrassônicas (frequência maior que 20000 Hz, inaudíveis para humanos) pelas narinas ou pela boca, dependendo da espécie. Essas ondas atingem obstáculos no ambiente, onde sofrem reflexão e voltam na forma de ecos. Esses ecos são percebidos pelos morcegos com uma frequência maior que a emitida originalmente, devido à aproximação entre os mesmos e os obstáculos. Com base no tempo em que os ecos demoraram a voltar, nas direções de onde vieram, e na frequência relativa dos ecos (efeito Doppler), os morcegos sentem se há obstáculos no caminho, assim como suas distâncias, formas e velocidades relativas. Isso é especialmente útil para caçar insetos voadores, por exemplo, mas morcegos com outras dietas também usam bastante esse sentido.


Alguns dos ancestrais dos morcegos - musaranhos e toupeiras (mamíferos da ordem Eulipotyphla) - já possuíam um sistema de ecolocalização rudimentar. Supõe-se que os morcegos desenvolveram seu sistema sofisticado como uma novidade evolutiva, eventualmente perdido nas raposas-voadoras, tendo algumas espécies desenvolvido posteriormente um sistema rudimentar baseado em cliques da língua[13]. Outros sistemas de ecolocalização evoluíram de forma independente em golfinhos, baleias, andorinhões e outros animais.


A ecolocalização também pode ser chamada de biossonar, pois a partir desse sistema natural foram desenvolvidos os sonares de navios e os aparelhos de ultrassom. Na verdade, nenhuma "imitação humana" se compara à qualidade do sistema natural. Assim, os morcegos contam com um recurso muito importante para animais que precisam se orientar à noite ou em ambientes escuros, como as cavernas. A eficiência da ecolocalização varia entre as espécies de morcegos, sendo que os de hábito alimentar insetívoro, ou predadores de insetos em geral, possuem-no mais desenvolvido. A ecolocalização é importante também para morcegos que se alimentam de plantas, pois ela os ajuda a encontrar frutos[14] e flores[15], e reconhecer suas espécies com base no padrão de ecos que produzem[16].


Alguns morcegos usam a ecolocalização também para se comunicar com outros indivíduos da mesma espécie; isso é importante principalmente no reconhecimento entre mães e filhotes[17]. Já se tem estudado aplicações da ecolocalização na orientação de pessoas cegas[18].


Morcegos vampiros (subfamília Desmodontinae) tem ainda um sétimo sentido, a termopercepção[19].



Reprodução |




Um morcego Dermanura cinerea cuidando do seu filhote debaixo de uma tenda feita em uma folha, na Reserva Michelin, Brasil


Um morcego recém-nascido agarra-se à pele da mãe e é transportado, embora logo se torne grande demais para isto. Seria difícil para um adulto carregar mais de uma cria, portanto normalmente nasce apenas uma. Os morcegos frequentemente formam colônias-berçário, com muitas fêmeas dando à luz na mesma área, seja uma caverna, um oco de árvore ou uma cavidade numa construção. A gestação dura de dois (em algumas espécies de morcegos frugívoros) a sete meses (em morcegos hematófagos), variando conforme a espécie. Em algumas espécies duas glândulas mamárias estão situadas entre o peito e os ombros (axilares), mas também podem ser peitorais ou abdominais.


Embora a habilidade de voar seja congênita, imediatamente após o nascimento as asas ainda são pequenas demais para voar. Os jovens morcegos da ordem Microchiroptera se tornam independentes com a idade de seis a oito semanas, os da ordem Megachiroptera não antes dos quatro meses. Com a idade de dois anos os morcegos estão sexualmente maduros.


A maioria dos morcegos tem apenas um filhote por gestação e de uma a duas gestações por ano. Há exceções como os morcegos do gênero Lasiurus, que costumam ter quadrigêmeos, e alguns morcegos Myotis, que podem ter três ou quatro gestações por ano [20]. A expectativa de vida do morcego vai de quatro a trinta anos, variando muito conforme a espécie[21]. Morcegos que se alimentam de plantas costumam ter sua sazonalidade reprodutiva influenciada pela oferta dos frutos ou flores de que mais gostam, porém em alguns locais as variações no clima podem ser muito importantes[22].


Morcegos apresentam uma grande variedade de comportamentos reprodutivos [23]. Em geral, a maioria das espécies de morcegos é poligínica, ou seja, um macho dominante mantém o controle sobre várias fêmeas (harém), enquanto machos subordinados lutam para conseguir copular secretamente com algumas delas. Há espécies de morcegos em que os machos têm glândulas de cheiro nos ombros ou pescoço, usadas para emitir odores que atraem as fêmeas. Em outras espécies os machos têm ornamentos, como cristas na cabeça, que desempenham um papel na seleção sexual. Além disso, algumas espécies apresentam comportamentos sexuais bem curiosos, como até mesmo felação [24].



Inimigos naturais |


Os morcegos pequenos são, às vezes, presas de corujas e falcões. De maneira geral, há poucos animais capazes de caçar um morcego. Na Ásia, existe um tipo de falcão que se especializou em caçar morcegos. O gato doméstico é um predador regular em áreas urbanas: pega morcegos que estão entrando ou deixando um abrigo, ou no chão. Poucos morcegos descem ao chão para se alimentar, salvo casos observados nos gêneros Artibeus e Centurio. Morcegos podem ir ao chão devido a acidentes enquanto estão aprendendo a voar, em tempo ruim, como estratégia de aproximação ou então quando estão doentes. Também existem relatos de algumas espécies de sapos e lacraias cavernícolas que predam morcegos, além, é claro, de morcegos carnívoros maiores, especialmente da tribo Vampirinii, que se alimentam dos menores. Marsupiais neotropicais, como gambás e cuícas da família Didelphidae, também costumam predar morcegos. Cobras também são importantes predadores de morcegos[25]. Há também registros de predação de morcegos do gênero Myotis por bem-te-vis[26].


Os piores inimigos dos morcegos são os parasitas. As membranas, com seus vasos sanguíneos, são fontes ideais de alimento para pulgas e carrapatos. Alguns grupos de insetos sugam apenas o sangue de morcegos, por exemplo as moscas-de-morcego, pertencentes às famílias Streblidae e Nycteribiidae. Nas suas cavernas, os morcegos ficam pendurados muito próximos: portanto, torna-se fácil para os parasitas infestar novos hospedeiros.



Interações com plantas |




Um morcego Platyrrhinus lineatus se alimentando de um fruto de caqui-do-cerrado (Diospyros hispida), na reserva da Universidade Federal de São Carlos, no Brasil




Um típico morcego nectarívoro (Lichonycteris obscura) na Reserva Michelin, no Brasil. Na foto, é possível ver o focinho e parte da língua, geralmente muito alongados em morcegos que se alimentam de flores.


Os morcegos interagem com plantas de diversas formas, como por exemplo através do consumo de frutos e sementes, do consumo de néctar e pólen, do consumo de folhas, da construção de tendas em folhas e do uso de cavidades em árvores como abrigos[27]. Essas interações podem ser classificadas quanto ao seu resultado para os morcegos e as plantas em quatro tipos [28]: comensalismo, ao utilizarem partes da planta como abrigo, sem causar-lhe prejuízo; parasitismo, quando consomem partes da planta sem matá-la, causando-lhe algum prejuízo; predação, caso matem as sementes ao consumirem os frutos; mutualismo, quando ambas as partes de beneficiam da interação, como no caso da polinização e da dispersão de sementes.


Atendendo a que o comensalismo não afeta a planta, o parasitismo por morcegos não chega a ser muito intenso e a predação também não é muito frequente (já que os morcegos não costumam danificar sementes, exceto pelos morcegos Chiroderma), o mutualismo é a interação que desperta mais interesse, tanto pela sua frequência quanto pela sua grande importância ecológica. Há duas formas básicas de mutualismo entre morcegos e plantas: a polinização e a dispersão de sementes.


Na polinização[29], os morcegos visitam flores para consumir néctar, e acabam por transportar o pólen de uma flor a outra da mesma espécie, ajudando assim na reprodução das plantas visitadas. Algumas plantas, como algumas espécies de agave (matéria-prima da tequila), dependem fortemente de morcegos para sua polinizacão; outras, como a Dyssochroma viridiflorum, dependem de morcegos tanto para a polinização quanto para a dispersão de sementes [30]. Os principais morcegos envolvidos nesse tipo de mutualismo no Novo Mundo pertencem às subfamílias Glossophaginae, Brachyphyllinae e Lonchophyllinae (Phyllostomidae), e à subfamília Macroglossinae (Pteropodidae) no Velho Mundo. Os morcegos mais especializados em se alimentar de néctar geralmente tem poucos dentes e algumas espécies tem línguas extremamente compridas, que as ajudam a alcançar o fundo dos tubos florais de plantas muito especializadas na polinização por morcegos[31]. Algumas plantas especializadas na polinização por morcegos têm até mesmo estruturas florais que ajudam na sua detecção através de ultra-sons [15].


Na dispersão de sementes[32], os morcegos pegam frutos de diferentes plantas para comer e, ao fazerem isso, ingerem ou carregam as sementes, dependendo do tamanho. Com isso eles transportam as sementes por longas distâncias, ajudando também na reprodução das plantas e na colonização de novas áreas. No Novo Mundo, os principais morcegos dispersores pertencem às subfamílias Carolliinae e Stenodermatinae (Phyllostomidae), sendo responsáveis pela dispersão de mais de 500 espécies de plantas. No Velho Mundo, os morcegos frugívoros pertencem a diferentes subfamílias de Pteropodidae. Morcegos usam diversos critérios para escolher os frutos que vão comer, dentre eles o tamanho[33], a cor, o odor[34], a forma e a posição na planta[14]. Há morcegos frugívoros que, além de dispersarem sementes, podem também consumir algumas, sendo classificados como predadores de sementes; é o caso dos filostomídeos do gênero Chiroderma, que possuem adaptações fisiológicas e morfológicas para a granivoria[35][36]. As interações entre as diversas espécies de morcegos e plantas que vivem juntas em uma dada localidade formam redes complexas, que são responsáveis pela manutenção do serviço ambiental de dispersão de sementes, especialmente de plantas pioneiras (ou seja, as primeiras a chegar em uma comunidade). Essas redes complexas de morcegos e frutos têm propriedades diferentes das redes de aves e frutos, e portanto umas complementam os serviços das outras[37].


Uma outra forma muito interessante de interação entre morcegos e plantas é a construção de tendas em folhas. Ainda não há consenso se essa interação é um comensalismo ou um parasitismo. Muitas informações interessantes podem ser consultadas em um livro de 2007 sobre morcegos fazedores de tendas [38]. Esse hábito de construir tendas e levar frutos para comer debaixo delas pode até resultar em benefícios para a dispersão de sementes de outras plantas [39].



Transmissão da raiva |




Um morcego vampiro comum (Desmodus rotundus), na Fazenda Canchim, Brasil


Ainda que o perigo de transmissão de raiva se resuma aos locais onde essa doença é endêmica, dos poucos casos relatados anualmente em algumas localidades, a maioria é causada por mordidas de morcegos. Porém, na maioria dos lugares, especialmente nas cidades, os principais transmissores da raiva ainda são cães e gatos[40]. Embora a maioria dos morcegos não tenha raiva, os que têm podem ficar pesados, desorientados, incapazes de voar, o que torna mais provável que entrem em contato com seres humanos. Outras mudanças no comportamento do morcego contaminado são atividade alimentar diurna, hiperexcitabilidade, agressividade, tremores, falta de coordenação dos movimentos, contrações musculares e paralisia, seguida de óbito. O maior problema relacionado à raiva transmitida por morcegos são as mortes de animais de criação, principalmente bois[40]. Os principais morcegos transmissores de raiva são da subfamília Desmodontinae (família Phyllostomidae), os famosos morcegos vampiros, porém morcegos de outros tipos também podem se contaminar e transmitir a doença[40].


Embora não se deva ter um medo desmesurado de morcegos, deve-se evitar manipulá-los ou tê-los no lugar onde se vive, tal como acontece com qualquer animal selvagem.


Os morcegos vampiros têm dentes muito pequenos e afiados, então podem morder uma pessoa adormecida sem que sejam sentidos. Além disso, eles são muito pequenos (cerca de 30 g), seu ataque é muito sutil e sua mordida é superficial, por isso é difícil que acordem a presa. Morcegos vampiros tem ainda um sétimo sentido, a termopercepção[41], que funciona através de mecanismos fisiológicos finamente ajustados [42] e os auxilia a descobrir os vasos sanguíneos mais superficiais, propiciando assim uma mordida mais rasa e, portanto, menos dolorida. Morcegos vampiros não têm anestésico na saliva, ao contrário do que algumas pessoas acreditam. Porém, eles têm um forte anticoagulante na saliva, que retarda a cicatrização da ferida, permitindo que se alimentem por mais tempo; essa substância tem sido estudada para a elaboração de remédios para a circulação[43].


Se um morcego for encontrado em uma casa e não se puder excluir a possibilidade de exposição, o morcego deve ser capturado e imediatamente encaminhado para o centro local de controle de zoonose para ser observado. Isto também se aplica se o morcego for encontrado morto. Se for certo que ninguém foi exposto ao morcego, ele deve ser retirado da casa. A melhor forma de fazê-lo é fechar todas as portas e janelas do cômodo exceto uma para o exterior. O morcego logo sairá.


Devido ao risco de raiva e também há problemas de saúde relacionados a suas fezes, que podem conter, entre outros, os fungos causadores da histoplasmose, os morcegos devem ser retirados das partes habitadas das casas. Nos locais onde a raiva não é endêmica, como na maior parte da Europa ocidental, pequenos morcegos são considerados inofensivos.



Aspectos culturais |


O morcego é sagrado em Tonga e na África Ocidental e, frequentemente, é considerado a manifestação física de uma alma separada. Na cultura popular, os morcegos estão intimamente relacionados aos vampiros, que se diz serem capazes de se metamorfosear em morcegos. São também um símbolo de fantasmas, morte e doença. Entre alguns nativos americanos, como os Creeks, Cherokees e Apaches, o morcego é um espírito embusteiro. A tradição chinesa afirma que o morcego é um símbolo de longevidade e felicidade, bem como na Polônia, na região da Macedônia e entre os Árabes e Kwakiutls.


Na cultura ocidental, o morcego é, frequentemente, associado à noite e à sua natureza sombria. É um dos animais básicos associado com os caracteres ficcionais da noite, tanto a vilões como Drácula, quanto a heróis como Batman.


No Reino Unido, todos os morcegos estão protegidos pelos Decretos da Vida Silvestre e Zona Rural (Wildlife and Countryside Acts), e mesmo perturbar um morcego ou seu ninho pode ser punido com pesada multa.


Em alguns países asiáticos, morcegos são muito apreciados na culinária tradicional, contudo seu consumo vem sendo proibido devido à ameaça que representa para populações naturais já reduzidas por outros fatores.



Morcegos no Brasil |


Os morcegos são espécies silvestres e, no Brasil, estão protegidos pela Lei de Proteção à Fauna. A sua perseguição, caça ou destruição, no país, são consideradas crimes. Morcegos são no Brasil a segunda maior ordem de mamíferos, com pelo menos 179 espécies distribuídas em nove famílias e 68 gêneros, sendo que a maioria das espécies do país pertence à família Phyllostomidae[44][45]. Cerca de 50% dos morcegos brasileiros se alimentam de plantas, dependendo delas ou não, diferente do padrão geral para a ordem Chiroptera como um todo, que contém 70% de espécies insetívoras[28]. Há uma sociedade científica no país, a Sociedade Brasileira para o Estudo de Quirópteros, dedicada exclusivamente à pesquisa, ecopolítica e divulgação científica sobre morcegos.


Nos estados de Mato Grosso e de Minas Gerais, vêm sendo registrados surtos de raiva transmitida por espécies hematófagas. Estes surtos são conseqüência da intensa ação antrópica, que cada vez mais vem tirando os alimentos (por exemplo, aves) e destruindo o habitat dessas espécies para a construção de casas e loteamentos. As populações humanas, ao se estabelecerem na rota de migração dessas espécies, acabam sujeitas a contrair a doença, que também afeta o gado.



Importância ecológica e econômica |



  1. São responsáveis por dispersar sementes de árvores e outras plantas à longa distância[46]. Mais de quinhentas pequenas sementes podem ser transportadas por um único morcego a cada noite.

  2. Auxiliam na reprodução de centenas de espécies de plantas, visitando as flores como fazem de dia os beija-flores e as abelhas, e assim transportando o pólen de flor em flor[47].

  3. Há morcegos que se alimentam de pequenos animais, incluindo roedores e gafanhotos[48], controlando pragas que causam grandes prejuízos à agricultura[49].

  4. São largamente empregados em pesquisas científicas, incluindo a ação de medicamentos que, no futuro, poderão ter aplicação em humanos.

  5. A saliva do morcego vampiro comum tem forte ação anticoagulante[50]. A sua pesquisa poderá ter aplicações no tratamento de várias doenças vasculares [43].

  6. As fezes dos morcegos constituem excelente adubo natural (guano). Foram intensamente exploradas até ao desenvolvimento de adubos industriais.

  7. O guano de morcegos é a principal fonte de nutrientes em muitas cavernas, portanto os morcegos sustentam muitos desses ecossistemas.

  8. Têm sido estudados para aperfeiçoamento de aparelhos de sonar e ultra-som[51].

  9. São importantes elos na cadeia alimentar, portanto o seu desaparecimento poderá resultar em desequilíbrio ambiental, causando maiores danos do que os causados pela sua proximidade com o homem[52].

  10. Comem traças e com isso ajudam na conservação de livros em bibliotecas [53].



Gravuras |




Ver também |




Wikilivros


O wikilivro Alfabeto dos animais/M tem uma página intitulada Alfabeto dos animais (Wikijúnior)


  • Ecolocalização



Referências




  1. ab FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 158


  2. Simmons NB. 2005. Order Chiroptera. In: Wilson DE, Reeder DM, editors. Mammal species of the world: a taxonomic and geographic reference. Baltimore: Johns Hopkins University Press. p 312-529.


  3. ab Kunz TH, Fenton MB. 2003. Bat ecology. Chicago: The University of Chicago Press. 799 p.


  4. Kunz TH, de Torrez EB, Bauer D, Lobova T, Fleming TH. 2011. Ecosystem services provided by bats. Annals of the New York Academy of Sciences 1223(1):1-38.


  5. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. pp.117,872


  6. χείρ, Henry George Liddell, Robert Scott, A Greek-English Lexicon, on Perseus


  7. Simmons NB. 1994. The case for chiropteran monophyly. American Museum Novitates 3103:1-54.


  8. Teeling EC, Springer MS, Madsen O, Bates P, O'Brien SJ, Murphy WJ. 2005. A Molecular Phylogeny for Bats Illuminates Biogeography and the Fossil Record. Science 307(5709):580-584


  9. Simmons NB, Geisler JB. 1998. Phylogenetic relationships of Icaronycterys, Archaeonycterys, and Palaeochropteryx to extant bat lineages, with comments on the evoluion of echolocation and foraging strategies in Microchiroptera. Bulletin of the American Museum of Natural History 235:1-182


  10. Nery MF, González DJ, Hoffmann FG, Opazo JC. 2012. Resolution of the laurasiatherian phylogeny: Evidence from genomic data. Molecular Phylogenetics and Evolution 64:685-689


  11. «Morcego brasileiro é o mais rápido do mundo | Revista Pesquisa Fapesp». revistapesquisa.fapesp.br. Consultado em 20 de fevereiro de 2018. 


  12. Bernard E. 2003 Ecos na escuridão: o fascinante sistema de orientação dos morcegos. Ciência Hoje 32(14-20.


  13. Jones G, Teeling EC. 2006. The evolution of echolocation in bats. Trends in Ecology & Evolution 21(3):149-156.


  14. ab Kalko EKV, Condon MA. 1998. Echolocation, olfaction and fruit display: how bats find fruit of flagellichorous cucurbits. Functional Ecology 12:364-372.


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Ligações externas |




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  • Prevenção contra doenças transmitidas pelos morcegos (http://www.zoonose.com.br).

  • Sociedade Brasileira para o Estudo de Quirópteros - SBEQ (http://www.sbeq.net).

  • Casa dos Morcegos (https://casadosmorcegos.wordpress.com), site brasileiro de divulgação científica sobre morcegos.

  • Ano do Morcego em Portugal 2011-2012 (http://www.wix.com/anodomorcego/icnb).

  • Morcego Livre (http://www.morcegolivre.vet.br/especies.html[ligação inativa]), site brasileiro de divulgação científica sobre morcegos.

  • Morceguismos (http://morceguismos.blogspot.com/), blog português de divulgação científica sobre morcegos.

  • Programa para a Conservação dos Morcegos Brasileiros (http://www.biodiversitas.org.br/pcmbr/).

  • Morcegos do Brasil, livro científico com fichas biológicas das espécies brasileiras, editado por Reis et al. (2007) e de distribuição gratuita (https://web.archive.org/web/20090703094616/http://www2.uel.br/pos/biologicas/livros/Morcegos_do_Brasil.pdf).

  • Mamíferos do Brasil, livro científico com fichas biológicas das espécies brasileiras, editado por Reis et al. (2011) e de distribuição gratuita (https://web.archive.org/web/20151025114708/http://ifile.it/rd1h7co/Mamiferos_do_Brasil_2ed.pdf).

  • Prevenção contra doenças transmitidas pelos morcegos (http://www.zoonose.com.br).

  • Barbastella (http://www.barbastella.org/).

  • Bat Conservation International (http://www.batcon.org/), site de uma ong americana voltada para a conservação, pesquisa e divulgação sobre morcegos.

  • Bat-Plant Interactions in the Neotropics (http://www.nybg.org/botany/tlobova/mori/batsplants/introduction/intro_frameset.htm), banco de dados em inglês sobre interações entre morcegos e plantas (frugivoria e nectarivoria) na região Neotropical.

  • Murciélagos neotropicales que acampan en hojas. Livro sobre morcegos fazedores de tendas em folhas. (http://books.google.com/books?id=BjeJRLeYZIQC&lpg=PA11&hl=pt-BR&pg=PA11#v=onepage&q=&f=false)


  • https://web.archive.org/web/20031212192447/http://animaldiversity.ummz.umich.edu/chordata/mammalia/chiroptera.html - em inglês


  • http://tolweb.org/tree?group=Chiroptera&contgroup=Eutheria - em inglês


  • https://web.archive.org/web/20050403144404/http://katydid.uni-graz.at/batkey/ - em inglês


  • Flying Fur Os morcegos são úteis, precisam da nossa proteção - em inglês


  • Morcego como símbolo - em inglês


  • http://www.cdc.gov/ncidod/dvrd/rabies/Bats_&_Rabies/bats&.htm CDC, sobre morcegos e raiva - em inglês


  • Centro Ciência Viva do Alviela, espaço com exposição interactiva sobre morcegos


  • Morcegos na Web, transmissão de imagens de morcegos em directo.

























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