O Banquete
O Banquete, também conhecido como Simpósio (em grego antigo: Συμπόσιον, transl. Sympósion) é um diálogo platônico escrito por volta de 380 a.C.. Constitui-se basicamente de uma série de discursos sobre a natureza e as qualidades do amor (eros). O Banquete é, juntamente com o Fédon, um dos dois diálogos de Platão em que o tema principal é o amor. A interpretação de Leo Strauss e de Stanley Rosen destaca o aspecto tragicômico deste diálogo, que é, na verdade, a resposta de Platão às acusações da Cidade contra a filosofia.
Índice
1 Temática
2 Questões relativas à obra
3 O Eros
4 Ligações externas
Temática |
Tò sumpósion, em grego, é em geral traduzido como O Banquete, mas, no sentido atual, equivaleria a uma festa mundana, em que quase sempre se bebe mais do que se come. Trata-se, pois, de um festim na casa de Agatão, poeta trágico ateniense. Sócrates é o mais importante dentre os homens presentes. Entre outros, também ali estão Aristodemo, amigo e discípulo de Sócrates; Fedro, o jovem retórico; Pausânias, amante de Agatão; o médico Erixamaque; Aristófanes, comediante que ridicularizava Sócrates, e o político Alcibíades.
Questões relativas à obra |
O exagero cometido na festa do dia anterior, sobretudo o excesso de bebida, fatigara os convidados de Agatão. Pausânias propõe, então, que, em lugar de beber, ficassem ali a conversar, a discutir ou que cada um fizesse algo "diferente". A proposta de Pausânias é aceita por todos. Eriximaco sugere que fossem feitos elogios a Eros: os convidados deveriam fazer discursos para louvar o amor. Sócrates intervém, ponderando que, antes de falar sobre o bem que o amor causa e seus frutos, deveriam tratar de definir o que é o amor. Diz que, na sua juventude, fora iniciado na filosofia do amor por Diotima de Mantineia, que era uma sacerdotisa. Diotima lhe ensinou a genealogia do amor.
O primeiro a discursar sobre o assunto é Fedro, seguido por Pausânias, que afirma que há mais de um Eros, dividido entre bem e mal, real e divino. Após, segue Eriximaco: segundo ele, o amor não exerce influência apenas nas almas, mas dá, ainda, harmonia ao corpo.
O próximo a discursar é Aristófanes, que começa seu discurso advertindo que sua forma de discursar será diferente. Faz de imediato uma denúncia da insensibilidade dos homens para com o poder miraculoso de Eros, e sua consequente impiedade para com um deus tão amigo. Para conhecer esse poder, ele diz que é preciso antes conhecer a história da natureza humana e, dito isto, passa a narrar o mito da nossa unidade primitiva e posterior mutilação. Segundo Aristófanes, havia inicialmente três gêneros de seres humanos, que eram duplos de si mesmos: havia o gênero masculino masculino, o feminino feminino e o masculino feminino, o qual era chamado de andrógino. Nas palavras do poeta:
É então de há tanto tempo que o amor de um pelo outro está implantado nos homens, restaurador da nossa antiga natureza, em sua tentativa de fazer um só de dois e de curar a natureza humana. Cada um de nós portanto uma téssera complementar de um homem, porque cortado com os linguados, de um só em dois; e procura cada um o seu próprio complemento.
Assim, aqueles que foram um corte do andrógino, sejam homens ou mulheres, procuram o seu contrário. Isto explica o amor heterossexual. E aquelas que foram o corte da mulher, o mesmo ocorrendo com aqueles que são o corte do masculino, procurarão se unir ao seu igual. Aqui Aristófanes apresenta uma explicação para o amor homossexual feminino e masculino. Quando estas metades se encontram, sentem as mais extraordinárias sensações, intimidade e amor, a ponto de não quererem mais se separar, e sentem-se a vontade de se "fundirem" novamente num só. Esse é o nosso desejo ao encontramos a nossa cara metade.
O amor para Aristófanes é, portanto, o desejo e a procura da metade perdida por causa da nossa injustiça contra os deuses. O último a elogiar o amor foi Agatão, o anfitrião do banquete. Ao contrário dos que o precederam, Agatão não se propõe enaltecer os benefícios que Eros faz ao homem, mas sim cantar o próprio deus e a sua essência, passando em seguida a descrever-lhe o dote. Após toda essa longa lista de virtudes atribuídas a Eros, nota-se o quanto o poeta se distancia de sua proposta inicial e de seu preceito metodológico.
Finalmente chega a hora de Sócrates discursar, e ele fala que, sendo o Amor, amor de algo, esse algo é por ele certamente desejado. Mas este objeto do amor só pode ser desejado quando lhe falta e não quando o possui, pois ninguém deseja aquilo de que não precisa mais.
O que deseja, deseja aquilo de que é carente, sem o que não deseja, se não for carente.
Aqui, na fala de Sócrates, Platão coloca seu apontamento crucial sobre o conceito de amor, onde, o que se ama é somente aquilo que não se tem. E se alguém ama a si mesmo, ama o que não é. O objeto do amor sempre está ausente, mas sempre é solicitado. A verdade é algo que está sempre mais além: sempre que pensamos tê-la atingido, ela se nos escapa entre os dedos. Essa inquietação na origem de uma procura, visando uma paixão ou um saber, faz do amor um filósofo. Sendo o Amor, amor daquilo que falta, forçosamente não é belo nem bom, visto que necessariamente o Amor é amor do belo e do bom. Não temos como desejar aquilo que temos. No mesmo diálogo, Platão ainda fala sobre a origem de Eros (através do mito narrado por Diotima de Mantineia a Sócrates). Eros teria a natureza da falta justamente por ser filho de Recurso e Pobreza.
O Eros |
Platão deixa entrever em O Banquete, que Eros deve ser pensado em termos relacionais, não em termos absolutos. Não se deve compreender o amor como absoluto, mas como relativo, pois é amor de alguma coisa. O amor estabelece relação entre quem ama e aquele que é amado, assim como a opinião certa medeia a sabedoria e ignorância.
No texto, Platão retira de Eros (Amor) a condição de deus, e transforma-o em um selo, um intermediário entre os deuses e os mortais (o amor como ligação). Segundo relatos do texto de Platão e de alguns de seus companheiros, o amor é um dos maiores bens do homem (junto com o inteligência e a sabedoria); não é nem bom nem mal em si mesmo, como prática. No diálogo, existe também uma explicação e a naturalização do amor bissexual e do amor homossexual. Platão relaciona o amor com a verdade, pois quando se ama não é somente exercer o poder sobre alguém ou demonstrar força, mas trata-se de saber ser correspondido, ou seja, trata-se da verdade.
Para alguns intérpretes, o conceito de amor em Platão em O Banquete é irracional e explicado pela natureza.
Ligações externas |
O Wikisource em grego tem texto original relacionado com este artigo: Symposium |
The Internet Classics Archive: Symposium ou Banquete de Platão, tradução inglesa de Benjamin Jowett
L'antiquité grecque et latine: Le Banquet ou o Banquete de Platão, tradução francesa de Victor Cousin, 1834
Symposion, Texto em grego antigo na edição de John Burnet, 1901
Symposion, Banquete de Platão, tradução alemã de Franz Susemihl, 1855
Stanford Encyclopedia: Platão sobre a amizade e o Eros (Plato on Friendship and Eros), texto em inglês de C. David e C. Reeve
- ¤ Não é da autoria de Platão segundo a maioria dos estudiosos
- † Não é geralmente aceito pelos estudiosos
- ‡ Somente trechos têm a autoria comprovada